O FAMOSO VALGO DINÂMICO DO JOELHO

O famoso valgo dinâmico do joelho
O termo valgo dinâmico está em evidência atualmente na literatura referente a lesões de MMII. Mas, o que significa valgo dinâmico? Vamos à explicação: o valgo dinâmico do joelho é uma projeção medial do joelho em relação à linha média do corpo no plano frontal que impede o correto alinhamento dinâmico desta articulação durante a realização de atividades funcionais. Sua incidência é maior em mulheres praticantes ou não de atividades físicas.
Sua causa é multifatorial, que variam desde déficit de mobilidade de tornozelo (principalmente dorsiflexão, que levam a um aumento do deslocamento medial do joelho), pé plano (que causa rotação interna da tíbia e do fêmur devido à pronação excessiva da articulação subtalar), instabilidade de tronco e principalmente fraqueza da musculatura póstero-lateral do quadril (principalmente glúteo médio) que causa uma adução e rotação interna do membro inferior, além da queda da pelve contralateral, medializando o joelho (figura abaixo).

A literatura aponta exaustivamente uma forte relação entre o movimento de valgo do joelho e lesões na articulação, os maiores clássicos são a Síndrome da dor femoropatelar (à medida que o valgo aumenta durante a flexão do joelho, as pressões de contato na articulação femoropatelar aumentam), lesões sem contato do ligamento cruzado anterior do joelho, o conhecido e ‘’assustador’’ LCA (devido a um mecanismo alterado dos membros inferiores e tronco, gerando aumento na tensão desse ligamento, principalmente em esportes onde envolvem movimentos de giros, com a perna presa ao solo como futebol e basquete, por exemplo) e tendinopatia patelar (padrão de movimento incorreto e, consequentemente, a alteração de alinhamento da patela podem promover um aumento das forças de cisalhamento no tendão patelar, favorecendo o surgimento desta patologia).
Existem alguns testes que podem ser usados para avaliar esta alteração de padrão de movimento. O single Leg Squat Test (ou teste de agachamento da perna única) é um dos mais eficientes e de simples aplicação (veja a explicação do teste AQUI).
Por outro lado, sabemos que uma lesão para ocorrer, principalmente no esporte precisa de um complexo sistema de falhas biomecânicas, psicológicas e fisiológicas, produzidas pela interação não linear desses fatores (Bittencourt et al, BJSM 2016). Da mesma forma a dor (sim a dor), pois se trata de uma ‘’experiência sensitiva e emocional desagradável associada ou relacionada à lesão real ou potencial dos tecidos. “Cada indivíduo aprende a utilizar esse termo através das suas experiências anteriores”, definida pela IASP (International Association for the Study of Pain).
Após esta reflexão acima, gostaria de encerrar minha participação neste post deixando uma mensagem final aos profissionais de saúde, principalmente aos fisioterapeutas que trabalham com reabilitação ortopédica e esportiva: É fundamental a AVALIAÇÃO do atleta, uma vez que é apenas através de uma avaliação completa que o fisioterapeuta irá identificar quais aspectos estão interagindo e são relevantes para o surgimento da lesão, para que a partir do mesmo, possamos intervir de forma eficiente e resolutiva, pois nossa profissão carece e muito de objetividade e simplicidade (muitas vezes menos é mais) que ajude o atleta a voltar à prática esportiva ou uma pessoa normal voltar as suas atividades funcionais de forma eficaz. Então, não culpe o valgo dinâmico do joelho em todos os problemas de sua vida.
Lucas Borges Steffen
Fisioterapeuta
Referências Bibliográficas:
Bittencourt NFN, Meeuwisse WH, Mendonça LD, Nettel-Aguirre A,Ocarino JM ,Fonseca FT. Complex systems approach for sports injuries: moving from risk factor identification to injury pattern recognition—narrative review and new concept. Br J Sports Med. 2016.
POWERS, C. M. The Influence of Altered Lower-Extremity Kinematics on Patellofemoral Joint Dysfunction: a Theoretical Perspective. Journal of Orthopaedic and Sports Physical Therapy, v. 33, p.639-646, 2003.
Bittencourt NFM. Fatores preditores para o aumento do valgismo dinâmico do joelho em atletas [Dissertação]. Belo Horizonte. Universidade Federal de Minas Gerais. 2010.
Cashman GE. The effects of weak hip abductors or external rotators on knee valgus kinematics in healthy subjects: A sistematic review. J Sports Rehab. 2012.
FUKUDA, T. Y. et al. Short-term effects of hip abductors and lateral rotators strengthening in females with patellofemoral pain syndrome: a randomized controlled clinical trial. Journal of Orthopaedic & Sports Physical Therapy, Alexandria, v. 40, n. 11, p. 736-742, 2010.
FUKUDA, T. Y. et al. Hip posterolateral musculature strengthening in sedentary women with patellofemoral pain syndrome: a randomized controlled clinical trial with 1-year follow-up. Journal of Orthopaedic & Sports Physical Therapy, Alexandria, v. 42, n. 10, p. 823-830, 2010.
https://www.iasp-pain.org

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